O Vale da Celulose, região criada oficialmente em maio deste ano pela Lei Estadual nº 6.404, já desponta como um dos motores da economia de Mato Grosso do Sul. Marcada pela expansão das plantações de eucalipto e pela instalação de grandes indústrias de celulose, a área formada por 13 municípios registrou a criação de 27.198 empregos formais apenas no primeiro semestre de 2025.
O número impressiona: equivale praticamente à população inteira de Costa Rica (28,7 mil habitantes), segundo estimativa do IBGE.
Saldo positivo de admissões
Entre janeiro e julho, os cinco principais municípios do polo – Água Clara, Bataguassu, Inocência, Ribas do Rio Pardo e Três Lagoas – contabilizaram 266.041 admissões e 238.843 desligamentos, conforme levantamento da Funtrab (Fundação do Trabalho de MS), com base nos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
As vagas surgem em diferentes setores: indústria, comércio, serviços e construção civil. Contudo, a base da expansão está diretamente ligada à cadeia do eucalipto. A ocupação que mais contratou foi a de trabalhador de extração florestal, responsável pelo corte, classificação e reflorestamento. Em seguida aparecem motoristas de caminhão e alimentadores de linha de produção, funções essenciais no funcionamento das fábricas.
Ribas do Rio Pardo: epicentro da transformação
Em Ribas do Rio Pardo, a apenas 98 km de Campo Grande, o impacto da celulose é visível no dia a dia. “Em média, são oferecidas de 250 a 300 vagas todos os dias. E, graças a Deus, tem bastante demanda”, afirma o prefeito Roberson Luiz Moureira (PSDB).
O município, que tinha 23 mil moradores em 2020, já se aproxima dos 30 mil habitantes em 2025. Esse crescimento acelerado trouxe não apenas oportunidades, mas também déficit de moradia, pressão sobre escolas e necessidade de novos serviços urbanos. Para mitigar o problema, a Suzano entregou 954 unidades habitacionais, enquanto outros projetos, incluindo a construção de mais 600 casas, estão em andamento.
De acordo com a Funtrab, entre 2020 e 2025, Ribas registrou 58.868 admissões e 52.803 desligamentos, resultando em um saldo positivo de 6.065 empregos formais.
Inocência: de pacata a promissora
Com apenas 8,4 mil habitantes, o município de Inocência vivia um cenário de estagnação até pouco tempo atrás – inclusive com saldo negativo de empregos em 2022. O cenário mudou radicalmente com o anúncio da instalação de uma fábrica da chilena Arauco, gigante mundial do setor de celulose.
A pedra fundamental foi lançada em abril de 2025, em cerimônia que contou com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin. No pico das obras, a previsão é de 14 mil empregos diretos e indiretos. Quando a fábrica entrar em operação, serão seis mil vagas permanentes, transformando a cidade em um novo polo industrial.
Em 2024, antes mesmo da obra, o município já havia registrado saldo positivo de 1.525 empregos, puxados principalmente pelo setor de serviços, que se aqueceu com a expectativa do empreendimento.
Bataguassu: investimento bilionário da Bracell
Outra cidade que deve ter sua economia redesenhada é Bataguassu, com 23 mil habitantes. O município receberá a nova fábrica da Bracell, fruto de um investimento de R$ 16 bilhões.
Durante a fase de construção, a previsão é de 12 mil empregos diretos e indiretos, com expectativa de movimentar não apenas o mercado de trabalho, mas também o setor imobiliário e de serviços. Quando entrar em operação, a unidade deve gerar cerca de 2 mil postos permanentes.
Estruturação do polo regional
Além de Ribas do Rio Pardo, Inocência e Bataguassu, o Vale da Celulose reúne os municípios de Água Clara, Aparecida do Taboado, Brasilândia, Cassilândia, Nova Alvorada do Sul, Paranaíba, Santa Rita do Pardo, Selvíria e Três Lagoas.
A inclusão desses municípios consolida a região como um dos principais polos de geração de emprego e renda de Mato Grosso do Sul, ampliando a relevância do Estado no mapa nacional da celulose – setor estratégico para exportações brasileiras.
Crescimento econômico e desafios sociais
O ritmo acelerado do desenvolvimento, porém, vem acompanhado de novos desafios. A rápida urbanização pressiona serviços básicos como saúde, educação, transporte e habitação. Autoridades locais e estaduais têm buscado parcerias com as próprias empresas do setor para investir em infraestrutura.
De acordo com especialistas, a região caminha para se tornar um dos maiores complexos florestais e industriais do país, mas a consolidação do polo dependerá do equilíbrio entre crescimento econômico e sustentabilidade social.




