Rio Paraguai atinge 3 metros, depois do recorde negativo histórico de 2024
Marcação foi registrada em Ladário; em outubro do ano passado, régua marcou -69 centímetros.
As chuvas não tem sido tão intensas como em anos de abundância hídrica na bacia do Rio Paraguai, contudo as precipitações nos últimos sete meses superaram a média do ano passado e o Pantanal acumula muita água nos campos, ressurgiram corixos e baias e alguns rios secos, como o Abobral, voltaram a correr e fluir pela planície. Sinal de que os focos de incêndios serão menos acentuados esse ano, segundo os pantaneiros e especialistas.
A recuperação da região após a seca severa de 2024 é visível pelo volume de água no canal do Rio Paraguai, com transbordamentos em alguns trechos onde o barranco da margem é menos acentuado, e as inundações pontuais provocadas por chuvas no decorrer do primeiro semestre. Em Ladário, o Paraguai registrou o nível de 3 metros nesta terça-feira (10), depois do recorde centenário de -69 centímetros, no dia 17 de outubro do ano passado.
Pantaneiros e ambientalistas estão otimistas quanto a uma menor incidência de queimadas no segundo semestre. “O cenário é muito positivo, o Pantanal segue enchendo, e provavelmente, se tiver algum fogo vai ser localizado, entre outubro e novembro, período mais crítico de seca”, avalia Ângelo Rabelo, presidente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), organização não-governamental que faz a gestão de unidades de conservação na Serra do Amolar.
Águas chegando - Pelos cálculos do Serviço Geológico do Brasil (SGB), que faz monitoramento contínuo da bacia, o Rio Paraguai continuará subindo até a primeira semana de julho, embora a crença do pantaneiro aponte o início da vazão no próximo dia 24, depois da celebração do São João. “As águas (de Cáceres, MT) continuam chegando”, informa Armando Lacerda, com base no volume do rio no Porto São Pedro (160 km ao Norte de Corumbá), de sua propriedade.
Essa água seria resultado dos últimos repiques do rio na cidade mato-grossense, localizada próxima às cabeceiras da principal veia hídrica da bacia, e chegaria a Corumbá e Ladário no final do mês – cenário que confirmaria as previsões do SGB. As chuvas mais volumosas no alto Pantanal elevaram o rio ao nível de 4,54m em Cáceres, na primeira semana de fevereiro, bem acima do pico máximo (3,86m) do ano passado, porém inferior a 2022 e 2023.
Relatos dos pantaneiros mostram que as águas voltaram à planície de forma dispersiva. Em algumas regiões, caminhões não chegam mais às fazendas, devido aos atoleiros, e o gado está enfrentando os alagados até os leilões ou portos. “É uma cheia pequena, mas benéfica, não apenas por segurar o fogo. Os campos estavam muito sujos com a seca”, informa o pecuarista Manoel Martins, da região do Paiaguás. As áreas de influência dos rios Piquiri e São Lourenço, na divisa com Mato Grosso, registraram alto índice de precipitações.
Transbordamento - Os dados apresentados pela centenária estação fluviométrica de Ladário – apontada como referência para cálculos de cheia e seca – mostram a tendência de maior volume de água acumulada na região baixa, depois de anos críticos no período 2020-2024 (exceto 2023), quando o Rio Paraguai não passou de 2,64m. A montante da captação de água da Sanesul em Corumbá, o Paraguai saiu da calha e inundou casas de ribeirinhos.
Para a Embrapa Pantanal, que ainda não apresentou prognóstico este ano do comportamento das águas, é considerado uma cheia normal quando o rio atinge 4,0m em Ladário. O SGB considera “estável” o nível do Paraguai nos principais pontos, incluindo Ladário e Porto Murtinho, onde teve uma elevação de 2,00m com as fortes chuvas de abril. Último boletim do órgão, de 4 de junho, faz previsão de chuvas nas próximas duas semanas na região.
O setor de mineração no Pantanal está encontrando o melhor cenário para uso da hidrovia do Rio Paraguai após quase dois anos de níveis críticos para o transporte. O Rio Paraguai atingiu a marca de 2,36 metros nesta quarta-feira (30 de abril), algo que não ocorria desde 2023.
Naquele ano, o rio estava em 3,20 m no mesmo período, garantindo melhores condições de escoamento. Esses indicadores fazem toda a diferença para a empresa LHG Mining, que está trabalhando na ampliação de sua venda de minério de ferro e de manganês para o exterior.
O encontro técnico reúne representantes do Brasil, Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai para discutir alternativas logísticas e estratégias de desenvolvimento ligadas à Hidrovia Paraguai-Paraná, com ênfase em sua importância como eixo de integração sul-americana, eficiência energética e vetor de desenvolvimento regional sustentável.
Na abertura do evento, o presidente da Adecon, Adalberto Tokarski, anunciou que o processo de concessão da infraestrutura aquaviária da hidrovia — incluindo dragagem pontual, sinalização e monitoramento — deve ser votado pela diretoria da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). “Não se trata de privatização do rio Paraguai, mas de uma concessão voltada à modernização da infraestrutura e ao aprimoramento da gestão ambiental e operacional”, afirmou.
O encontro é a segunda edição do Diálogo Hidroviário em Corumbá e marca mais uma etapa do programa que, desde 2017, já contabiliza 15 edições presenciais e 10 webinários. Ao todo, mais de quatro mil participantes já integraram os debates promovidos pela plataforma, que se apresenta como apartidária e independente, com foco na descentralização do debate sobre infraestrutura de transportes no país.
Durante a cerimônia, o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Sustentável, Odilon Rodrigues Silva, representando o prefeito Dr. Gabriel Alves de Oliveira, destacou a importância da construção de políticas públicas voltadas à navegação interior. “Empresas deixaram nossa região por falta de logística adequada. Hoje, com este evento, estamos construindo um novo caminho, com a participação de diversos setores”, afirmou.
Representando o Governo de Mato Grosso do Sul, o coordenador de Mineração e Gás da Semadesc, Eduardo Pereira, destacou o apoio do Estado. “Esta hidrovia precisa ser viável ambiental, social e economicamente. Estamos aqui para desmistificar visões errôneas e garantir que a riqueza de Corumbá possa ser distribuída à sua população”, declarou.
A Agência Nacional dos Transportes Aquaviários (Antaq) tem dados disponíveis até fevereiro deste ano, quando o Rio Paraguai apresentava 1,53 m na régua de Ladário, nível bem acima do identificado no mesmo período de 2024. Só nesse período, o crescimento de movimento portuário do transporte de minério foi de 84% – considerando o Terminal Gregório Curvo, principal meio de escoamento da LHG Mining. Toda essa carga foi direcionada para exportação.
A empresa, que entrou no mercado há três anos, trabalha para conseguir dobrar sua produção. Neste ano, o volume extraído previsto é de 12 milhões de toneladas. Com um investimento anunciado em abril de R$ 4 bilhões para ampliar suas minas, a proposta é alcançar 25 milhões de toneladas de minério extraído nos municípios de Corumbá e Ladário. Esses números constam no Relatório de Impacto Ambiental (Rima) entregue ao Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), órgão responsável pela fiscalização.
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