segunda-feira, 28 de abril de 2025

MST intensifica mobilizações por reforma agrária em MS e MT com ocupações e bloqueios


Campo Grande (MS) — Entre os dias 25 e 28 de abril de 2025, o Mato Grosso do Sul e o Mato Grosso registraram uma nova onda de mobilizações organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). As ações, inseridas na Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária – o tradicional "Abril Vermelho" –, incluíram ocupações de terras e órgãos públicos, além de bloqueios em rodovias estratégicas dos estados.

No sábado (26/4), cerca de 300 famílias sem-terra ocuparam uma área considerada improdutiva no distrito de Panambi, em Dourados (MS), pertencente à empresa JBS, conforme informaram autoridades locais. A ação visava pressionar pela destinação da terra à reforma agrária. No entanto, na manhã de domingo (27/4), uma operação da Polícia Militar, envolvendo o Batalhão de Choque e o Departamento de Operações de Fronteira (DOF), resultou na retirada forçada dos ocupantes. De acordo com relatos, o despejo foi realizado sem a apresentação de mandado judicial, utilizando gás lacrimogêneo e balas de borracha. Barracos, plantações de subsistência e pertences das famílias foram destruídos.


Ainda no domingo, em resposta ao despejo, manifestantes bloquearam parcialmente a rodovia MS-379. O bloqueio permaneceu até a manhã seguinte, enquanto lideranças do MST exigiam negociações com representantes do governo federal.

Na segunda-feira (28/4), o movimento ampliou os protestos: interdições foram registradas na BR-060 (entre Campo Grande e Sidrolândia) e na MS-164 (em Ponta Porã), com a queima de pneus e uso de galhos para interromper o tráfego. Cobradores e motoristas foram surpreendidos pelas barreiras, que foram monitoradas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Após negociações, o bloqueio na BR-060 passou a operar no sistema "siga e pare", com liberações alternadas de 15 minutos em cada sentido.

Ainda no mesmo dia, militantes ocuparam o prédio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) em Campo Grande, cobrando diálogo imediato sobre a criação de assentamentos prometidos. A principal disputa gira em torno de uma fazenda na região de Sidrolândia, área que acumula cerca de R$ 300 milhões em débitos fiscais, segundo o MST-MS.

Entre as lideranças à frente das mobilizações estão Claudinei Barbosa, coordenador estadual do MST, e Laura dos Santos, representante da entidade em Mato Grosso do Sul. Ambos reforçaram, em discursos públicos, que a luta é por acesso à terra e por políticas efetivas de reforma agrária. “Nossa pauta é a terra para produzir alimentos. Só sairemos com uma resposta concreta de Brasília”, afirmou Barbosa durante os bloqueios.

As manifestações contaram com o apoio de figuras políticas locais, como a deputada federal Camila Jara (PT-MS) e a deputada estadual Gleice Jane (PT), que atuaram na mediação entre os manifestantes e representantes do governo federal, como dirigentes do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do INCRA.

Por parte do governo estadual, a Secretaria de Justiça e Segurança Pública confirmou que a área ocupada em Dourados pertence à JBS e defendeu a atuação das forças policiais, que, contudo, foi classificada pelo MST como "ilegal" e "violenta". A empresa JBS, proprietária da terra em disputa, foi procurada pela imprensa, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.

No Mato Grosso, as mobilizações ocorreram de forma mais localizada. Em 9 de abril, cerca de 500 trabalhadores rurais ocuparam a sede do INCRA em Cuiabá, denunciando o que consideram uma estagnação nos programas de reforma agrária no estado.

Todas essas ações compõem a Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária, em que o MST promove ocupações e protestos em diversas regiões do país, reforçando o lema deste ano: "Ocupar para o Brasil alimentar". As demandas incluem a criação imediata de novos assentamentos, acesso a crédito rural e o fortalecimento da agricultura familiar como alternativa à concentração fundiária.

As negociações seguem em andamento, com expectativas de novos desdobramentos nos próximos dias.


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