O caseiro Jorge Ávalos, de 60 anos, foi atacado e morto por uma onça-pintada na região de Touro Morto, município de Aquidauana, Mato Grosso do Sul, na segunda-feira, 21 de abril de 2025, mobilizando equipes da Polícia Militar Ambiental e pesquisadores em uma área de difícil acesso do Pantanal sul-mato-grossense.
Na madrugada de 24 de abril, um macho de 94 kg apontado como autor do ataque foi capturado por uma força-tarefa formada por pesquisadores, guias e policiais ambientais, recebendo cuidados iniciais (acesso venoso e monitor cardíaco) antes de ser levado a um centro de reabilitação, onde sua condição será investigada. Entre as hipóteses em análise estão comportamento defensivo, escassez de presas em razão das cheias sazonais, possível período reprodutivo do animal e atitude involuntária da vítima que teria despertado a resposta do felino.
O caso evidencia a necessidade de práticas preventivas, educação ambiental e manejo integrado para facilitar a convivência humana com a onça-pintada, espécie-chave para o equilíbrio do Pantanal e foco de programas de conservação.
O Incidente
Local e Circunstâncias
Na manhã de 21 de abril de 2025, Jorge Ávalos realizava tarefas de manutenção em um deck próximo à mata no pesqueiro Touro Morto, às margens do Rio Miranda, quando foi surpreendido pela onça-pintada. A área, situada a cerca de 150 km de Miranda, em Aquidauana (MS), é caracterizada por vegetação densa e alagamentos frequentes durante o período de chuvas, o que dificulta a circulação de pessoas e veículos.
Cronologia dos Eventos
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21/04/2025: Ataque ocorrido; vítima sumiu após ser arrastada para dentro da mata.
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22–23/04/2025: Família, policiais ambientais e guias localizam partes do corpo próximas a uma toca onde repousava a onça.
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24/04/2025: Captura do animal de 94 kg; iniciados primeiros cuidados veterinários antes de envio a um centro de reabilitação em Campo Grande.
Fatores Contribuintes
Escassez de Alimento e Ciclo de Chuvas
O Pantanal vive ciclos de cheia que alteram a disponibilidade de presas naturais. Em períodos de alagamento intenso, o deslocamento das espécies silvestres se restringe, reduzindo a oferta de alimento para o topo da cadeia alimentar.
Comportamento Territorial e Reprodutivo
Em certas épocas do ano, as onças-pintadas podem exibir maior territorialidade, sobretudo fêmeas com filhotes ou machos em busca de parceiras, aumentando o risco de reações defensivas diante de intrusos humanos.
Atitude da Vítima
Vídeos mostram que Jorge tentava coletar mel em um deck próximo à mata e foi alertado por um amigo sobre pegadas de onça no entorno antes do ataque, mas prosseguiu sozinho, possivelmente sem equipamentos de segurança adequados.
Prevenção e Medidas Possíveis
Boas Práticas no Pantanal
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Circulação em grupo: evita encontros inesperados com onças e permite socorro imediato.
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Uso de lanternas potentes: essencial em trilhas e áreas de vegetação densa, sobretudo ao amanhecer e anoitecer.
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Sinalizadores sonoros: apitos ou sinos avisam da presença humana e podem afastar felinos.
Uso de Barreiras e Equipamentos
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Cercas elétricas ou de nylon em torno de áreas de convivência e abrigos de caseiros.
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Armadilhas fotográficas e rastreamento por GPS em pontos estratégicos, para monitorar movimentos de onças e antecipar riscos.
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Kit de primeiros socorros e comunicação via rádio ou celular de longa distância.
Educação Ambiental e Convivência
Projetos como o “Guia de Convivência” do ICMBio e WWF-Brasil (acesse aqui) oferecem orientações para moradores de áreas rurais sobre como reduzir conflitos e promover a coabitação segura com felinos de grande porte.
Questões Ambientais
Fragmentação de Habitat e Agricultura
A expansão de áreas agrícolas e o desmatamento ao redor do Pantanal fragmentam corredores naturais, amplificando o contato entre onças e populações humanas e reduzindo a área de caça.
Impacto das Mudanças Climáticas e Inundações
Chuvas intensas e variações climáticas podem inundar territórios tradicionais de caça, forçando as onças a buscar alimento próximo a fazendas e áreas de pescadores, elevando o risco de conflito.
Importância Ecológica da Onça-pintada
Como predadora de topo, a onça-pintada regula populações de herbívoros e mantém o equilíbrio de toda a teia alimentar do Pantanal, sendo considerada espécie-bandeira para conservação de grandes áreas contínuas do bioma.
Curiosidades sobre a Onça-pintada
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Maior felino das Américas e terceiro maior do mundo, com peso que pode ultrapassar 100 kg na fase adulta.
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Manchas únicas como impressões digitais, permitindo que pesquisadores identifiquem indivíduos individualmente.
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Mordida mais poderosa entre os felinos, capaz de perfurar o casco de tartarugas; caninos de até 5 cm de comprimento.
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Territórios variam de 30 km² (no Pantanal, devido à alta disponibilidade de presas) a 1.300 km² (em biomas mais fragmentados, como o Cerrado).
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Adaptação a áreas úmidas: prefere habitar regiões com corpos d’água e planícies alagáveis, o que faz dela um excelente caçador em ambientes aquáticos.
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