Por Ruy Sposati
Do Cimi
O
Kaiowá Denilson Barbosa, de 15 anos, morador da aldeia Tey'ikue, foi
encontrado morto no domingo, 17, no município de Caarapó (MS), em uma
estrada vicinal a sete quilômetros do perímetro urbano da cidade, com um
tiro na cabeça. Segundo relatos de testemunhas, Denilson e outros dois
indígenas estavam indo pescar no sábado, 16, quando foram abordados por
três pistoleiros ligados ao proprietário e arrendatário de uma fazenda
vizinha à terra indígena de Caarapó, onde foi criada uma reserva no
início do século XX.
Os indígenas correram dos homens armados,
mas Denilson acabou apreendido pelos pistoleiros e assassinado - segundo
as testemunhas, além do tiro confirmado pela perícia criminal da
Polícia Civil de Caarapó, o jovem Kaiowá levou mais um tiro na cabeça e
outro no pescoço. Por questões de segurança, os nomes das testemunhas
serão omitidos nesta reportagem.
Revoltados, familiares e
moradores da aldeia enterraram o corpo de Denilson na fazenda onde
ocorreu o assassinato, arrendada para a criação de gado e o monocultivo
de soja. A comunidade também planeja realizar uma série de protestos
para denunciar a ação violenta. Conforme o relato dos indígenas
sobreviventes e as características da morte, os indícios apontam para
execução.
Denilson, uma criança de 11 anos e outro indígena
saíram no final de sábado para pescar no córrego Mbope'i, cuja nascente
fica dentro da terra indígena, e que cruza fazendas do entorno. Quando
se aproximaram de um criadouro de peixes, foram abordados por três
homens armados. Os sobreviventes identificam os três indivíduos - entre
eles, um paraguaio - como ‘funcionários’ de um arrendatário da fazenda.
Os
três homens atiraram contra os indígenas, que saíram em fuga do local.
Dois deles conseguiram se esconder. Denilson caiu e ficou preso no arame
farpado de uma cerca. Os três homens, então, o pegaram e passaram a
desferir coronhadas na cabeça e no estômago do Kaiowá, mandando que ele
se levantasse. Segundo os sobreviventes, quando se pôs de pé, Denilson
foi alvejado com três tiros: dois na cabeça e um no pescoço.
Fazenda evacuada
Os
dois sobreviventes, ainda escondidos, viram, na sequência, os homens
colocarem o corpo de Denilson na caçamba de uma caminhonete. Após a
saída do veículo, os indígenas voltaram à aldeia para relatar o ocorrido
à família. Impactado pela notícia, o pai de Denilson decidiu ir até a
fazenda procurar o filho. Ao chegar ao local, conforme relatou, o pai do
jovem assassinado não encontrou ninguém. A fazenda fora evacuada.
O
corpo de Denilson foi encontrado por um caminhoneiro - segundo os
indígenas, também funcionário de outra fazenda da região - que circulava
pela vicinal, próxima à reserva, por volta das 5 da manhã de domingo,
17. Os indígenas acreditam que, após o assassinato, os pistoleiros
desovaram o corpo de Denilson em uma estrada longe da fazenda, num
entroncamento conhecido como "Pé de Galinha".
Segundo a perícia
criminal da Polícia Civil, Denilson foi encontrado com um tiro abaixo do
ouvido. O laudo cadavérico do Instituto Médico Legal (IML), contudo,
ainda não foi concluído. A Polícia já iniciou as investigações, mas não
quis dar detalhes sobre o caso.
Segundo relatos, essa não foi a
primeira vez que jagunços ligados ao fazendeiro atiraram contra os
indígenas. Também, o problema da pesca é recorrente entre os Guarani e
Kaiowá da Terra Indígena de Caarapó, onde vivem confinadas
aproximadamente cinco mil pessoas em 3594 hectares de terra. Desde a
criação do território indígena pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI),
em 1924, os indígenas precisam pescar fora da área reservada, onde só há
nascentes de córregos, mas não há peixes, sofrendo pressões e ataques
de fazendeiros.
As reservas são áreas de confinamento - e depois
da Constituição de 1988 uma categoria de terra indígena - criado pelo
SPI durante o processo de espoliação dos Guarani e Kaiowá em decorrência
da colonização do então Estado do Mato Grosso. O confinamento é
apontado por especialistas como uma das principais causas dos suicídios
e, consequentemente, da luta pela terra de ocupação tradicional travada
pelos indígenas desde o início da segunda metade do século XX.
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