segunda-feira, 21 de julho de 2025

UMA CARTA ABERTA AO POVO


    Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) chega a julho de 2025 com quatro décadas de resistência ativa e luta coletiva em defesa da terra, da reforma agrária e da soberania nacional. Fundado em 1984, o MST nasceu do inconformismo de camponeses expulsos de suas terras e privados do direito à dignidade. Desde então, se consolidou como uma das maiores organizações populares da América Latina, assentando mais de 450 mil famílias e construindo territórios produtivos, democráticos e voltados ao bem comum.
    Hoje, seguimos em luta para ecoar nossa voz em todo o Brasil. Nossa causa se conecta com o sentimento do povo brasileiro e com o compromisso do presidente Lula na defesa da soberania nacional, cada vez mais ameaçada pelas ações imperialistas lideradas por governos como o de Donald Trump. Mas também denunciamos que a soberania nacional é atacada internamente, com a submissão do campo às empresas transnacionais e com um Congresso capturado por interesses do agronegócio e da mineração.A Reforma Agrária Popular, que defendemos com firmeza, é um instrumento essencial para resgatar a autonomia nacional. O agronegócio, que se apresenta como solução, é na verdade um modelo entreguista, antipatriótico e destruidor do meio ambiente. Em contrapartida, nós defendemos a agricultura camponesa, agroecológica e solidária, capaz de garantir soberania alimentar ao povo brasileiro e de cuidar dos bens comuns da natureza.Por isso, o MST vai às ruas para exigir terra, moradia, crédito, educação e políticas públicas estruturantes que fortaleçam os assentamentos e deem dignidade às mais de 122 mil famílias ainda acampadas em 1.250 locais pelo país. São trabalhadores e trabalhadoras que querem produzir, viver com dignidade e contribuir para o desenvolvimento justo do Brasil. Ao mesmo tempo, mais de 400 mil famílias assentadas aguardam o mínimo de atenção do Estado para acesso ao crédito, à comercialização e à educação.Após três anos de governo Lula, a Reforma Agrária segue estagnada. 
    Nos perguntamos, com a esperança que ainda pulsa: Lula, cadê a Reforma Agrária? O INCRA e o MDA têm apresentado lentidão, orçamentos insuficientes e falta de articulação com as reais necessidades das famílias camponesas. Enquanto isso, cresce o desânimo nos territórios, e os conflitos sociais se aprofundam. Repudiamos o avanço de propostas legislativas que atacam diretamente os movimentos populares e os povos do campo. O chamado “PL da Devastação” (PL 2.169/2021), a proposta de repressão sem ordem judicial (PL 8262/2017) e a manutenção da Instrução Normativa nº 112 do governo anterior, que autoriza mineração em assentamentos, são exemplos do retrocesso institucional em curso. Esses ataques desrespeitam direitos fundamentais, criminalizam a luta e ameaçam o futuro do país.A situação da educação também é alarmante. O PRONERA carece de orçamento suficiente para garantir ensino superior aos jovens do campo. A Política Nacional de Educação do Campo enfrenta o fechamento acelerado de escolas e a falta de estrutura para garantir o direito à educação nas comunidades rurais. A juventude camponesa quer permanecer no campo, mas o Estado não oferece as condições básicas para isso.Apesar de tantos desafios, seguimos comprometidos com a construção de um Brasil mais justo. Participamos ativamente da campanha pela taxação dos super-ricos, pela redução da jornada de trabalho e pelo Plebiscito Popular por um Brasil Mais Justo. 
    A vitória de Lula em 2022 foi uma conquista das forças populares, das mulheres, da juventude, da população negra, LGBTQIA+, indígena e trabalhadora – que agora exige respostas concretas do governo que ajudou a eleger.Por fim, reafirmamos nossa luta por uma Reforma Agrária Popular como caminho necessário para um país soberano, com justiça social, cuidado ambiental e distribuição de riquezas. É hora do governo cumprir seu compromisso histórico, destinando terras, orçamento e políticas públicas à altura das necessidades do povo do campo. Não podemos mais esperar. A terra é nossa, a vida é urgente, e a luta continua.

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